O MENININHO CURIOSO
Um menininho muito curioso perguntava a todo mundo qual era o último número que existia. Queria, porque queria saber qual era o número que dava fim a todas as contas, qual o número que não teria nenhum outro depois. O menininho mal havia aprendido a contar até trinta com seus irmãos mais velhos e já estava preocupado em saber até onde precisaria aprender a contar.
Quando perguntava a seus pais, eles sempre respondiam que os números não tinham fim, que, igualzinho ao horizonte e ao céu, eles eram infinitos. O menininho, porém, não se convencia de que algo pudesse não ter um fim.
- O que vem depois do infinito? – perguntava, encafifado.
Ele olhava para o céu e via um teto azul e quando ficava olhando para o mar, na praia, via lá no fim o mesmo céu se encontrando com o mar. Para ele, as ondas nasciam lá. Será que ele pensava que as ondas que estouravam na beira da praia, quando voltavam lambendo a areia iam bater lá no paredão e retornavam com mais força? Bom, essa é uma outra história para ser contada de uma próxima vez.
A de hoje é a do menininho que queria descobrir qual era o último número que existia. Um dia, ele encontrou uma velhinha na rua e fez a mesma pergunta de sempre:
- A senhora sabe qual é o último número?
A velhinha ficou muito surpresa e admirada com a pergunta daquele garotinho, mas percebeu logo que ele não iria ficar satisfeito se dissesse simplesmente que o último número não existe. Então, ela primeiro explicou pacientemente ao menininho que algumas coisas não podiam ser tocadas. Só sentidas. A velhinha disse também a ele que as histórias contadas pelas pessoas, umas para as outras, também não acabariam nunca, se continuassem a ser contadas sempre, sempre, sempre...
De pai pra filho, de avó pra neto, de amiguinho pra amiguinho, de vizinho pra vizinho... – ela disse.
A velhinha, muito simpática e paciente, contou mais, muito mais. Ela disse que hoje muitas das histórias que o menininho conhecia haviam sido inventadas há muitos e muitos anos. Muito antes de ela nascer.
- Ih, então deve ter sido há muito tempo mesmo, né?
- Ah, ah, ah... É verdade, foi mesmo há muito, muito tempo. Essas histórias foram passando por esse tempo todo, por muitos lugares e por muitas pessoas sem morrer. As histórias foram mudando, ficando um pouquinho diferentes cada vez que eram contadas por alguém, foram modificando um pouquinho mais em cada lugar do mundo, porque cada pessoa as contava de formas diferentes, criando coisas novas para elas. Por isso, a mesma história que você ouve aqui pode estar sendo contada de um outro jeito para uma criança que mora lá do outro lado do mundo, sempre parecendo que é uma história nova. Por isso, as pessoas gostam tanto de ouvir, inventar e contar histórias.
- É verdade. E tem as histórias que a gente nunca ouviu antes, não é?
- Sim, claro. E mesmo as histórias que você já ouviu de seu pai, quando ele conta novamente, sempre tem alguma coisa diferente, não tem?
- Tem, tem sim. Às vezes ele conta de um jeito, na outra conta de outra maneira. E ainda tem minha mãe, que conta as histórias sempre balançando meus bonecos, meus bichinhos na mão. Eles ficam parecendo que são da história. É muito legal!
- Pois é, meu menininho. As histórias são como os números, vão sempre sendo contadas, cada vez com uma coisinha diferente aqui, outra ali, sempre com uma coisinha a mais. Entendeu, meu menininho curioso?
- Entendi, sim, obrigado. Agora já sei o que vou fazer. Sabe o que vou fazer? Vou agora dar um número pra cada história que eu já conheço e pras novas que me contarem. Vou inventar umas também sem esquecer de dar um número pra elas.
- Que boa idéia, meu menino. E por que você quer fazer isso?
- É porque, assim, vou ter histórias que não acabam mais pra contar e ouvir!
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